terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Guia do viajante solitário: Pedindo foto

Depois de mostrar como é possível fugir das selfies viajando sozinho aqui, queria aproveitar pra dar outra dica pra sua viagem solo ter registros dignos de gente criativa. Nas minhas últimas férias viajei sozinha pra Itália, mas pelas fotos algumas pessoas perguntaram "Vc tava com quem?" Porque não me limitei a tirar selfies, eu queria fotos diferentes, queria interagir, sabe? A solução? Pedir! "Can you take a picture, please?" foi o que mais falei, e se não souber falar inglês não tem problema, é só apontar sua câmera pra pessoa e sorrir que ela vai entender. A questão é saber escolher a pessoa certa pra tirar sua foto. E esse, meus amigos, é o minicurso do viajante solitário de hoje. De nada.

Módulo I: Quem?

Pela minha experiência existem basicamente dois critérios: 
- ter uma boa câmera
- parecer simpático

O segredo é procurar alguém com uma câmera boa na mão, porque as chances dessa pessoa saber tirar uma foto boa é maior. 


Olha que enquadramento maneiro!

Veja também se a pessoa não está com pressa ou com cara de mal humorada, porque queremos alguém feliz pra pedir um favor, né não? Em Veneza encontrei um senhorzinho muito gente boa que tirou fotos minhas comendo um gelato. Ele mesmo falava "mais uma", "essa acho que não saiu bem", "vê se ficou boa", "o gelato tá bom, hein...". Um amor esse senhorzinho italiano.

                

                

As pessoas simpáticas são fáceis de identificar. Geralmente são turistas, caminhando felizes, curtindo as férias... Aposte nessas pessoas, vai por mim.


Módulo II: Foto em sequência

Essa função das câmeras modernas mudou minha vida: foto em sequência. Vê se seu celular faz isso, sério. É só clicar no botão da foto e manter apertado. Sai um monte de fotos, tipo filminho, aí escolhe as melhores e voilà! Habemus photographia! (ai, to tão poliglota! kkkk) Foi assim que consegui as fotos mais legais da viagem, como na caça aos pombos. Se seguir o módulo I vai ver que fica com muitos registros incríveis. Uma das sortes que eu tive, por exemplo, foi encontrar um casal super legal na Piazza San Marco que topou registrar meus momentos de caça ao pombo. Eles se divertiram também, fizeram várias sequências. Fiquei uns 5 minutos correndo pela praça feito uma criança feliz. Olha só:





 
Sim, eu saí pela praça correndo atrás de pombos enquanto dois estranhos estavam com meu celular novo tirando fotos minhas. Ah, deixei minha bolsa com eles também, pra não atrapalhar a corrida.

Módulo III: Escolha uma paisagem fácil

Outra sequência muito legal foi feita em Roma, por uma família que estava se divertindo e tirando fotos também. 













Esse último achei o melhor clique de todos. Nas fotos em sequência eventualmente várias serão muito parecidas e descartáveis, mas vale a pena pelas preciosidades que sempre aparecem.

Gente, e tem como uma foto sair ruim com esse dia lindo e o Coliseu ao fundo? Não tem! Uma paisagem bem escolhida valoriza demais suas fotos, e facilita a pessoa que você pediu entender o enquadramento que você quer, sabe? Aquela foto conceitual, com jogo de figura e fundo, é melhor evitar nesse momento. 

Módulo IV: Se ofereça para retribuir

Seja também um daqueles turistas felizes que procuramos no primeiro módulo. Isso é muito eficaz quando se aborda um casal, porque você pede sua foto e se oferece pra fazer uma deles também. Aí você vai se esforçar pra tirar fotos lindas como gostaria que fizessem com você, certo? E assim se perpetua esse ciclo de convívio entre viajantes. 


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Caves da Real Companhia Velha

Sempre que alguém me pergunta sobre o que fazer no Porto eu indico o passeio nas caves da Real Companhia Velha. Além da esperada visita e degustação de vinho do Porto, eles oferecem um city tour bem interessante a bordo de um trenzinho estilo maria-fumaça. Falei disso aqui. E hoje venho cumprir mais uma promessa, a de ter um post dedicado somente à visita às caves, pra poder contar o que aprendemos com a nossa guia. Aliás, deixa eu dizer, toda a equipe da Real Companhia Velha está de parabéns, fomos muito bem recebidos, desde a compra dos bilhetes até a lojinha na saída. Recomendo sempre.


Eu quando descobri esse passeio, em 2008. Agora a maria-fumaça tá branca.   

Bem, a vantagem de se fazer uma visita guiada em qualquer lugar é poder conhecer detalhes que passariam despercebidos se fosse um passeio por conta própria. E não adianta dizer que dá pra pesquisar tudo no google, porque não é a mesma coisa. Um bom guia vai abrir seu olhar pra fatos que você não descobriria sozinho, temos que admitir. E foi isso que aconteceu nessa visita, tanto que depois recorri ao google pra relembrar algumas coisas e não encontrei tudo. Por isso aviso logo: as informações que passarei abaixo são das anotações que fiz durante a visita, algumas coisas consegui encontrar no google também, mas não tudo. Portanto, se houver algo que você discorde ou saiba que está errado, não me xinga, pode me corrigir nos comentários. Combinado? Então vamos lá.

Real Companhia Velha

Antes de começar, quero apresentar a Real Cia. Velha, também conhecida como Royal Oporto. Como o nome mesmo indica, essa casa tem origem na família real, fundada por alvará do rei D. José I, em 1756. Seus 260 anos fazem dela uma das mais prestigiadas marcas de produtos portugueses, pois não se limita à produção de vinho do Porto, mas também de vinho do Douro e até azeite (incluído na degustação ao final da visita). Claro que o carro chefe da casa é o famoso vinho do Porto, cuja história vamos conhecer um pouquinho mais. 


Caves da Real Companhia Velha

Devido ao grande interesse dos ingleses pelo vinho português, especialmente o vinho do Porto, muitos deles também investiram nesse produto. É fácil identificar essas origens pelos nomes das casas: Taylor's, Sandeman, Offley, Kopke etc. Desde o séc. XVII que portugueses e ingleses convivem nesse mercado de um dos mais aclamados vinhos do mundo.    

Já sabemos que o vinho do Porto foi "descoberto" por acaso, certo? Nesse mesmo séc. XVII, quando a Inglaterra importava grandes quantidades de vinho português, a safra passou a ser pouca, então para fazer render o vinho e ajudar a conservar durante longos períodos de travessia marítima, misturaram aguardente à produção. Acontece que a aguardente corta a fermentação do açúcar, dando esse sabor adoçicado ao vinho do porto, enquanto seu alto teor alcoólico vem da própria aguardente. O resultado foi um vinho licoroso, que não é para ser bebido como vinho de mesa, mas como um digestivo ou aperitivo. Devido ao seu sabor intenso não acompanha bem uma refeição, deve ser apreciado em pequenas doses, como os licores. 

Claro que os que fizeram a descoberta não queriam que essa fórmula fosse reproduzida em qualquer lugar, com qualquer uva. Então, para manter a qualidade desse vinho licoroso, posteriormente a produção de vinho do Porto foi patenteada, ou seja, somente as uvas da região do Douro podem produzir vinho do Porto. Nós, que convivemos com genéricos, inspired e falsificados mesmo, agradecemos. 

Classificação dos Vinhos do Porto

Divididos primeiramente em branco, ruby e tawny, os vinhos são diferenciados pela cor, consistência, sabor e teor alcoólico. Essa é a classificação básica de vinho do Porto. Há outras classificações quanto ao ano de colheita, tipo de safra, pela qualidade da uva etc que estão muito bem explicadinhas nesse siteAlguns enólogos também os classificarão quanto ao cheiro de animais, frutas, personalidade etc, mas meu nível de abstração não chega a tanto. Já ouvi um enólogo dizer que um vinho tinha cheiro de cachorro molhado, é sério. 

Fonte: https://www.ivdp.pt/pagina.asp?codPag=66

O branco é o mais fácil de identificar pela sua cor, obviamente. Mas mesmo assim ainda o subdividem em tipos de branco: palha, alourado, pálido etc. Essa variação da cor é determinada pelo tempo de envelhecimento, os mais escuros são envelhecidos em barricas e acabam com uma cor mais amadeirada. É o mais doce de todos, e eu, como não sou fã de vinho branco, quase nunca bebo desse. Em geral são mais leves, podendo ter teor alcóolico menor que os tintos. A verdade é que entre os vinhos do Porto o branco é como se fosse o primo pobre (que não nos ouçam... rs).

ruby é considerado um vinho novo, com até 3 anos de envelhecimento. Normalmente envelhece em garrafa ou é engarrafado logo, podendo envelhecer mais uns anos. Por isso é mais frutado, mais áspero, tem um tom de vermelho intenso. Dos três tipos é o que menos gosto, por ter um sabor muito forte, rasgante.

Agora sim, o melhor dos três: o tawny! Esse sim merece as reverências e homenagens. É o melhor de todos, o mais complexo. É, definitivamente, o primo rico, o dono de tudo, o mais admirado da família, com aqueles tons de dourado perfeitos. Tanto que possui subcategorias quanto à cor: tinto-alourado, alourado, alourado-claro. O tawny também é categorizado pela sua idade, sempre envelhecendo em barricas de madeira. Ele pode ser engarrafado com 4, 10, 20 ou 40 anos, sendo os mais velhos melhores, pois adquirem um sabor encorpado durante o envelhecimento.

 Um tawny e um branco pra degustação

Curiosidades

Por ser uma das casas mais antigas, a Real Cia. Velha guarda alguns tesouros em suas caves, como um vinho Colheita que está envelhecendo em barril de carvalho há somente 149 anos. CENTO E QUARENTA E NOVE ANOS! O plano é engarrafa-lo este ano, ao comemorar 150 anos de envelhecimento e deixa-lo disponível para o consumo. Pois é, "quanto será que custa?" foi a primeira pergunta que fiz à nossa guia. "Cerca de 2 ou 3 mil euros a garrafa" foi o que ela respondeu. Apenas. Deixei meu contato lá, quando estiver pronto vou buscar uma pra mim. Porque até lá quero ter 3.000,00€ pra gastar numa garrafa de vinho sim! #pelafé kkkkkkk 

Ah, também quis saber onde estaria esse barril de milhares de euros, claro. Ela disse que esses vinhos especiais são armazenados em outra cave, que não é aberta ao público (por que será?). Sim, há outras safras especiais reservadas para nunca mais, já que o vinho sempre melhora com o passar dos anos. Meu pai diz uma coisa certa "Alguém precisa beber logo isso, porque vai que um dia acontece alguma coisa e tudo quebra, se destrói, sei lá... Aí ninguém pôde apreciar o melhor vinho por estar guardado pra sempre. Nem precisa ser eu, mas alguém tinha que beber logo isso!" Concordo, papis. Dá até gastura pensar que alguma tragédia pode acontecer e lá se perdeu o vinho... Cadê o dono disso aí? Vai brindar com sua família! Desfruta do que você conquistou.


Lojinha onde em breve vou buscar uns Colheita de 200€ e achar uma pechincha.

Ao contrário dos outros vinhos, o vinho do Porto geralmente não envelhece engarrafado, mas em barricas de carvalho jovens. Digo jovens porque as grandes barricas tem vida útil para os vinhos até uns 100 anos, depois costumam ser vendidas para a Escócia para o envelhecimento de whiskies. Sim, as barricas de carvalho não apodrecem nem se aposentam. Por isso a classificação dos vinhos é determinada pelo seu tempo de envelhecimento em barricas. As menores guardam as safras mais valiosas, que durante a fermentação tem mais contato com a madeira, incorporam mais seus sabores.


Esses barris guardam preciosidades.

Passando pelas barricas grandes e pequenas da cave pudemos perceber algumas datas, vinhos de 20, 30, 50 anos ali, meditando, enriquecendo, ganhando valor próprio pra um dia mostrar ao mundo como a maturidade é importante, #ficadica pra vida, vamos aprender a envelhecer em barris de carvalho, longe do mundo, pra ganhar valor. Ando muito inspirada, gente, não liguem. :D