segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Fazendo Trilha: Rota do Marancinho

Pois bem, aí está uma coisa que gostaria de fazer mais vezes e sempre procrastino: trilhas. Eu amo fazer trilhas, caminhadas e afins, mas por alguma razão subconsciente raramente concretizo essa vontade. Não foi o que aconteceu semana passada, quando acordei cedo, respirei fundo e decidi que não ia passar aquele dia de folga estirada na cama assistindo séries - não que isso seja ruim, mas precisamos variar a programação das folgas, né? 

Aproveitando que também era folga de uma super amiga, daquelas que topa qualquer parada (fomos juntas pra Edinburgh e desde então queremos desbravar cada vez mais esse mundão de meu Deus :D #friendship), decidimos não dar Ibope pra Netflix por um dia (ou algumas horas... rs) e fomos desfrutar de natureza e ar livre pelos campos.

Como a pessoa aqui agora está motorizada (yeah!) pegamos a estrada! Mas não podia ser pra muito longe, porque ter carro não é sinal de ter dinheiro, temos que escolher destinos acessíveis. rsrs

E foi assim, com a ajuda de um livro de trilhas que comprei há 2 anos, que pegamos o caminho da Rota do Marancinho. Cumpria nossos requisitos: não era muito longe; era uma trilha circular, fácil pra voltar pro carro; o ponto de partida de fácil acesso via GPS; dificuldade baixa, mas com uma distância razoável pra valer a pena (6km segundo o guia e 8km segundo o informativo local).

 O livro de trilhas portuguesas que vamos zerar em quanto tempo mesmo, Soraia? Até o final do ano? De que ano? ahaha

Ok, destino escolhido, vamos lá! Chegar no ponto de partida foi tranquilo, a trilha começa no Mosteiro de Gondar, em Amarante, que faz parte também da Rota do Românico.

Aí começou uma série de eventos que pelo menos renderam boas risadas no fim do dia. Não tem propriamente parque de estacionamento em frente a esse mosteiro, fica numa estrada nacional sem calçada, no meio de um lugarejo (Gondar, claro). Conseguimos parar o possante numa espécie de calçada que seria a entrada de uma casa. Ainda bem que o carro é pequeno, se for com um carro maior talvez tenha alguma dificuldade de encontrar lugar pra parar. Primeiro obstáculo vencido, siga!

O livro tem só um porém, não traz os mapas das trilhas, ou seja, temos que pesquisar na net ou pedir a informação no lugar. Como são trilhas "registradas" imaginei que fossem bem sinalizadas e intuitivas. Nananinanão. Até tem um mapa no mosteiro indicando o percurso que tentamos ler, mas tava meio embaçado e não entendi porquê, achei que era da qualidade do vidro. Eis que Soraia, brilhante como sempre, me pega um lenço de papel e um bocado de água e começa a limpar o painel. Era somente poeira a mais. Lembrei que tinha álcool em gel também e fizemos uma mini faxina pra aceder à informação.

 Antes da limpeza...

 ...Depois da limpeza. Limpamos só a parte que nos interessava, porque não somos obrigadas, obviamente. 

Mapa legível, foto tirada, siga!

Mesmo com o mapa o percurso não parecia assim tão intuitivo, porque começa na beira da estrada nacional, então resolvemos perguntar para uns velhinhos na casa ao lado do mosteiro. A senhorinha prontamente nos apontou uma rua de pedra que subia um pouco pela estrada. Seguimos e vimos uma placa indicando a trilha. Boa! Só que a rua tem uns 50m e volta pro asfalto. hahahaha

Tudo bem que na explicação do painel diz que percorre uns 800m de asfalto e depois segue pela estrada de terra, por entre carvalhos, giestas e caminhos romanos, beirando a ribeira do Marancinho. Lindo, poético, lá fomos nós com muita disposição, um lanche bom, pouca água e o sol amigo das 13h. 

Expectativa: a cara de quem acha que vai andar por estradas romanas de pedras. Realidade: sai do asfalto, sobe esse pedacinho e volta pro asfalto. Um atalho só pra dar mais emoção. 

Dica 1: leve mais água do que você acha que vai precisar! Eu vacilei feio nessa, não costumo andar desprevenida com água, mas dessa vez errei.

Dica 2: Não comece uma trilha às 12h30 no verão. Não faça isso. O dia estava meio nublado, temperatura amena para o padrão, mas isso significa uns 30ºC quando o padrão é 40ºC. Só nos atentamos para isso quando começamos a subir e sentir o calor. Nota mental: planejar melhor os horários da próxima vez. Ok, siga!

The adventurers!

A partir daí foi uma sucessão de caminhos errados. Até fomos bem pelo trecho do asfalto, encontramos a tal estrada de terra, mas depois nos perdemos algures pelas encruzilhadas. Em quase todo percurso não tem sinalização, pelo menos não nas entradas, onde 3 ou 4 estradinhas parecem levar a lugar nenhum. Começamos a descer e paramos para perguntar novamente quando percebemos que não víamos mais a sinalização. 

Outros velhinhos num Café nos disseram que tínhamos que voltar a subir o pedaço todo que fizemos pra baixo. E eu confirmei essa informação umas 3 vezes, porque eu queria que me dissessem que a rota era pra baixo, bem melhor que subir né?

- Mas por aqui também não vai dar lá? 
- Não, é tudo pra cima, tudo pra cima!
- E se for por aqui não é também da rota?
- Não, não. É tudo pra cima! Sobe tudo e segue pela estrada a frente, depois vira na de terra e sobe sempre tudo. 
- Ok, obrigada...

Saímos do Café desoladas e ainda perdidas, porque ninguém entendeu direito a explicação. hahahah

A única coisa que a gente sabia era que precisava subir. Então em todo cruzamento pegávamos o caminho pra cima. Deu certo até encontrarmos a tal estrada antiga romana. Aliás, a parte mais clara da trilha era o caminho romano. Não tem como errar, as estradas irregulares de pedra não tem desvio, não tem atalho, é só seguir as pedras. Foi a parte mais legal e mais bonita também. Aí sim estávamos no meio de uma trilha na natureza! E comendo amoras até ficar roxas! hahahha Quantas amoras! Comemos todas que quisemos e trouxemos de brinde uns arranhões das silvas. Faz parte. 

 Soraia catando todas as amoras do caminho! #vaigordinha 

E eu super orientada no caminho romano. A melhor parte da trilha! #vaifitness

Dica 3: Não se meta no meio do mato de shorts como se fosse caminhar na praia. A natureza pode te deixar marcas. Leve umas calças adequadas ao terreno e ao clima.

Depois do trecho romano voltamos pra estrada mais nova, e aí tudo desandou. Nenhuma sinalização na maioria dos cruzamentos, tentamos ser intuitivas e usar o GPS até desistir e seguir para a civilização e pegar um táxi de volta. Sim, porque nessa altura do campeonato já não era mais legal ter deixado o carro no início da trilha porque não íamos terminar lá e precisávamos voltar de outro jeito. 

Quando desistimos oficialmente de concluir o percurso foi bem mais fácil, caminhamos por uma vila até encontrar um táxi e voltar pro carro. Sim, a aventura do dia foi concluída no conforto de um táxi. Porque a gente pode.

 Etapa final da trilha :D

Dica 4: Faça pausas regulares para sentar, comer e se hidratar. Isso eu já sabia, mas quis dar uma de super-mulher e caminhar 4h direto em subida debaixo de sol. A gente tentou seguir direto o máximo que conseguimos e não foi legal. Pés doloridos, cansaço demais, mau humor, vontade de ir embora logo, no fim do percurso não desfrutamos muito por erro nosso. Erro bobo, que as duas sabiam (a primeira trilha que fiz foi com um guia profissional em turismo de aventura, meu amigo Marcelo Sá, que vai me matar quando vir essas besteiras todas) e Soraia é escoteira! #shameonus :D

De volta ao mosteiro! Cheias de energia pra começar tudo de novo. #sqn

Na nossa opinião talvez a sinalização da trilha tenha sido prejudicada por incêndios recentes, não por descaso. Não é um percurso muito conhecido então imaginamos que seja difícil ter a manutenção impecável o tempo todo. Nós também não somos profissionais em trekking, então dependíamos muito da sinalização em cada esquina. Mesmo assim foi um dia bem divertido, com muitas risadas, um mini ataque de pânico ao ver uma cobra (mas sobrevivi, e a cobra também) e muito aprendizado. To pronta pra próxima! Vamos?

Essa foi a recompensa do dia ;D