sábado, 10 de agosto de 2019

Três dias no Porto

É muita falta de vergonha, né? Eu moro no Porto há mais de 2 anos (como passou rápido!) e ainda não fiz um roteiro decente sobre a cidade. Escrevi dicas em 2016 para um dia na cidade, sem nem imaginar que poucos meses depois a chamaria de lar. Ah, as surpresas da vida...

Primeira vez que vi a Ribeira a noite. Com lua cheia. Desde 2016 me apaixonei pelo Porto.

Portanto acho mais do que justo fazer um roteirinho de três dias na Invicta, sempre naquele ritmo slow travel que eu amo e não abro mão. Isso pra dizer que, apesar de não ser uma cidade tão grande assim, esse programa não vai esgotar todas possibilidades. Nunca esgota, na verdade. Todo lugar sempre tem algo para uma próxima visita. É isso que sustenta o vício do viajante, saber que sempre tem algo a mais. O mundo nunca vai se esgotar.


Revendo o que escrevi anteriormente até acho graça de como nossa percepção muda quando conhecemos uma cidade a fundo, quando aprendemos seus caminhos. Como eu fui me meter naquelas ruelas estranhas tendo a Mouzinho da Silveira e a Rua das Flores para ir até a Ribeira, alguém me explica? É aquele dom que a gente tem de complicar ao invés de simplificar, só pode!

Enfim, sem mais delongas, vamos ao que interessa.

1º Dia: Centro histórico, Francesinha, Ribeira e Jardim do Morro

Pois é, se seu dia começar cedo dá pra fazer isso tudo sem correr. Tomemos como ponto de partida a Av. dos Aliados. Fica bem próxima da estação de metro da Trindade, a principal do Porto, onde passam todas as linhas. Então não importa onde você se hospede, se for perto do metro pode ir pra Trindade direto. De lá desça pela Avenida dos Aliados, admirando seus edifícios, a começar pelo prédio da Câmara Municipal (prefeitura), uma construção clássica do início do séc. XX. Essa avenida é a alma do Porto, local dos principais eventos da cidade, do Reveillón à final da Copa, praticamente tudo é celebrado nos Aliados. Seu projeto data da primeira década do séc. XX e visava modernizar o centro da cidade e construir uma via ampla que facilitasse os acessos, além de simplificar a planta urbana, substituindo várias vielas que existiam no local.



Avenida dos Aliados no inverno. 



Reveillón 2019 na Avenida dos Aliados. Ao fundo a Câmara Municipal, onde foi a queima de fogos.

FC Porto campeão nacional 2018. Festa e passarela pros jogadores desfilarem na Av. dos Aliados.


Mas essa ideia não é pioneira. Em 1761 outra rua foi inaugurada com um objetivo semelhante. Estamos falando da Rua do Almada, paralela à Av. dos Aliados e que foi mandada construir por João de Almada e Melo, de quem herdou o nome e a importância. Ele foi um dos principais responsáveis pela expansão urbana da cidade no séc. XVIII, tomando como exemplo e inspiração a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755. Como era amigo do rei tinha carta branca pros seus projetos. Contatinhos, né mores? O Porto agradece.

Pode descer pelos Aliados até o final ou virar a esquerda para percorrer um pouco da rua do Almada (primeira paralela). No final de ambas as ruas você dá de cara com o Palácio das Cardosas, antigo convento que hoje é um dos mais icónicos hotéis 5* da cidade, o Intercontinental. Então vire a direita e suba a rua até a, não menos icónica, Livraria Lello. Já falei sobre ela aqui e é uma das atrações imperdíveis, com certeza.


Encantada com a Lello


Depois da Lello atravesse o Passeio dos Clérigos para conhecer a torre mais famosa do Porto. A Torre dos Clérigos foi inaugurada em 1763, projetada para ser um destaque na paisagem urbana e continua sendo até hoje. Dá pra subir ao topo da torre e ter uma vista de 360º da cidade. No verão tem alguns horários de visita noturna, então aconselho ficar de olho no site para saber disso e dos eventos que acontecem por lá. Acreditam que nunca subi nos Clérigos? Vou tratar disso o mais breve possível. Preciso curtir a cidade enquanto estou por aqui (ops... #spoiler ;D).


Torre dos Clérigos

A essa hora também você já deve estar com fome, então melhor parar pra almoçar. E não sei se você sabe, mas aqui tem umas regras a se cumprir com comida e bebida. Tem que comer francesinha e beber vinho do Porto (não ao mesmo tempo), senão terá problemas com a polícia na saída. É obrigatório aqui no Porto. #truestory #nemtãotrueassim 

Pra almoçar sugiro voltar um pouquinho pelos Aliados e comer uma francesinha na Cervejaria Brasão. São dois restaurantes e ficam basicamente uma de cada lado dos Aliados, depende de quanto você quer caminhar até o almoço. Eu pensei o roteiro pra ser o menos cansativo possível, mas não tem como fugir sempre das ladeiras do Porto, eventualmente vai rolar uma subidinha. É bom pra digerir os comes e bebes deliciosos.

Francesinha na Cervejaria Brasão

A francesinha é um prato típico do Porto, um sanduíche recheado com várias carnes, coberto com queijo derretido e um ovo frito (opcional), acompanhado de batatas fritas e um molho especial que faz tooooda a diferença na qualidade da francesinha. Se quiser saber mais sobre sua história e outras sugestões de lugares para comer essa iguaria veja aqui o que minha amiga Luíza disse das suas experiências.   

Comeu a francesinha? Não consegue andar e está pronto pra chamar o reboque? Não se preocupe, é assim mesmo, faz um esforcinho e levanta pra continuar o passeio, você consegue. 

Voltando para os Aliados e seguindo para baixo encontramos outra parada obrigatória na cidade: a Estação de São Bento. Inaugurada em 1896 no espaço do antigo Convento de São Bento de Avé-Maria, essa estação foi projetada para ser um braço da Estação de Campanhã, principal da cidade, facilitando o acesso ao centro e aumentando a mobilidade. Reparem que foi inaugurada na época de grandes transformações da planta urbana central do Porto (final do séc. XIX e início do séc. XX), mesmo período em que a Av. dos Aliados e a nova Câmara Municipal foram construídos.


Estação de São Bento

Além de mobilidade, a Estação de São Bento trouxe muita história também. Decorado com mais de 20.000 azulejos numa área de 551m², o hall de entrada da estação é uma obra de arte para observar com calma. Perca tempo ali descobrindo as cenas históricas que os painéis retratam, desde batalhas, coroamentos, à vida simples no campo. São muitas as histórias contadas nas paredes de São Bento.

Seguindo nosso passeio, vamos pegar a Rua das Flores até o final, admirando seu antigo casario burguês, que hoje em dia abriga lojas, restaurantes, bares, espaços de arte etc. Além disso vários artistas de rua trazem ainda mais vida a esse calçadão do Porto. Essa é uma das ruas mais antigas da cidade, aberta entre 1521-1525. Ganhou seu nome devido às hortas cheias de flores que existiam nos terrenos por onde a rua foi projetada, tornando-se um dos acessos mais importantes do centro.

Ao final da rua das Flores atravesse o Largo de São Domingos e continue descendo até encontrar um jardim à sua direita. Do outro lado está o imponente Palácio da Bolsa, sede da Associação de Comércio do Porto, aberto para diversos eventos e para visitação. Logo ao lado do palácio está a Igreja de São Francisco, uma construção do séc. XIV, que passou por inúmeras reformas ao longo dos séculos e é atualmente conhecida como a "igreja dourada", por causa do seu templo coberto de ouro. Além da igreja em si, vale a pena visitar o museu e as catacumbas da igreja, com ossadas que podem ser vistas através de vidros no chão (essa parte fica em um cantinho no final do espaço principal, a esquerda). As informações sobre horários e preços estão nos links de cada atração.


Minha primeira e única visita ao Palácio da Bolsa foi na Essência do Vinho em 2017. Um evento que reúne centenas de produtores nacionais e onde com essa taça você pode provar TODOS os vinhos da feira. Foi ruim não. :D


Finalmente é hora de descer para a Ribeira. O principal cartão postal do Porto faz jus à fama e é um lugar para descontrair, fotografar, admirar, beber um drink, caminhar despretenciosamente de um lado pro outro... A Ribeira é imperdível e vale a pena visitar de dia e de noite, para apreciar todas as suas luzes naturais e artificiais. Daqui é possível também fazer um passeio de barco, o famoso Cruzeiro das 6 Pontes, que cruza as pontes da cidade do Porto em 45/50 minutos, contando a história de cada uma delas. Várias empresas oferecem esse passeio ali no cais, pode comprar na hora mesmo. Os preços ficam em torno de 15/pessoa (sim, bem carinho).

Eu e meu cabelão passeando de barco pela Ribeira

E agora acredito que você nem consegue mais andar direito de tanto cansaço, certo? Então vamos encerrar nosso dia? Siga na direção da Ponte D. Luís I para pegar o funicular até o tabuleiro superior da ponte e atravessar a pé para o Jardim do Morro. Ao longo do caminho já dá pra ir percebendo o que nos aguarda. Esse espaço é um dos miradouros mais incríveis da cidade, com a melhor vista e um pôr-do-sol de tirar o fôlego. Tente chegar lá para ver o pôr-do-sol. Não vai se arrepender. Sente na grama, relaxe. Se estiver frio ou chovendo, aproveite o barzinho, beba algo pra alegrar seu paladar e namore o Porto, a cidade tá ali, sorrindo pra você.

Pôr-do-sol no Jardim do Morro no inverno.

Como chegar: Se você estiver hospedado no centro histórico pode adaptar a ordem das atrações e começar a partir do seu hotel. Se estiver fora do centro sugiro ir até a Estação de metro Trindade e começar dali. Vários autocarros também param nessa região, pode se informar melhor aqui.

2º Dia: Tour no Douro

Terminamos o primeiro dia sem falar em vinho do Porto. E por que eu não sugeri uma visita a uma cave em Gaia? Porque reservei o segundo dia inteiro para beber vinho! Vamos conhecer o Vale do Douro, a região demarcada onde todo o vinho do Porto é produzido. 

Aqui vou me gabar um pouquinho e dizer que você deve fazer esse passeio com a Bago D'Uva 360°, agência onde trabalho e que tem um roteiro ótimo para explorar a região e provar os diferentes vinhos que o Douro produz. Não, não é só vinho do Porto. Além dele, o Douro produz vinho Moscatel, de mesa, espumante e licor de uva, por exemplo (o vinho do Porto que não é registrado no IVDP - Instituto dos Vinhos do Douro e Porto). Além da vantagem de ter motorista e poder beber todos os vinhos ao longo do dia sem culpa e sem preocupação.


 Pinhão, Douro

Rio Douro

O Douro é uma região de mais de 200.000 hectáres, também produz excelentes azeites, amêndoas, cerejas e outras frutas. Cortada pelo rio Douro, é a região vitivinícola demarcada mais antiga do mundo (1756) e com uma paisagem que se encontra em pouquíssimos lugares no mundo, com suas encostas íngrimes cobertas de videiras descendo em montes e vales infinitos. 

Se quiser saber mais sobre os vinhos locais, a história, curiosidades, ver as paisagens e provar alguns dos melhores vinhos da região, reserva um passeio com a gente. Exploramos também outras regiões vínicas de Portugal, dá uma olhadinha no link que deixei acima. ;)

3º Dia: Casa da Música, Mercado Bom Sucesso, Foz do Douro e Matosinhos/Parque da Cidade

Para encerrar nossa curta passagem pelo Porto vamos sair um pouco do centro. Esses 3 lugares que sugiro pra hoje ficam fora do centro histórico, mas são bem acessíveis de transporte público. 

Começamos o dia visitando uma casa de cabeça pra baixo. O moderna Casa da Música não é só estilosa, mas funcional. Foi construída para ser uma sala de concertos com a tecnologia acústica mais avançada da época, fruto de um projeto audacioso lançado quando Porto foi eleita Capital Européia para Cultura em 2001, junto com Roterdam. Aqui na Europa existem esses rankings que elegem cidades todos os anos como capital da cultura, da juventude, melhor destino do ano etc. É uma forma de valorizar diferentes cidades da UE e sempre traz visibilidade, desenvolvimento e crescimento económico para os destinos. 


Casa da Música. Foto: Wikipédia

Vale a pena fazer uma visita guiada ou, quem sabe, assistir a algum espetáculo. 

Como chegar: Estação de metro Casa da Música.

Para almoçar ali por perto não tem lugar melhor que o Mercado Bom Sucesso (não confundir com o bairro carioca, esse se escreve assim mesmo, separado). Tem vááárias opções de comida típica portuguesa, entre petiscos, refeições e doces de marcas tradicionais do país, além de algumas atrações culturais. Vale a pena conferir tudo no site e se programar.

Agora é hora de relaxar um pouquinho, né? Os dias tem sido intensos! Nada melhor que uma brisa do mar para recarregar energias  para o restante da viagem. Sigamos para a Foz do Douro, lugar onde o rio Douro desagua no mar, como o nome indica. Aqui moram os primos ricos, é uma vizinhança mais abastada, com restaurantes mais requintados e exclusivos. Tipo o Leblon do Porto, sabe? Visite o Farol das Felgueiras, se for possível, porque dependendo da ressaca do mar essa área fica interditada por segurança. Mesmo de longe é bonito de ver, não vai perder a viagem. Passeie pela orla, parando eventualmente nos banquinhos para descansar e apreciar o mar. 


Farol de Felgueiras

Com uma caminhada de cerca de 30 minutos você chega em Matosinhos, minha praia preferida na região! O mar é calmo, tem transporte público fácil, estacionamento barato (ou gratuito, se encontrar) para carros, uma vibe de praia perfeita no verão. Só falta vender mate. Eu amo Matosinhos e viveria por lá tranquilamente. Quem sabe um dia... Lá é onde fica o Porto de Leixões, destino dos cruzeiros e de carga, a parte dos cruzeiros fica numa construção super moderna e que se vê bem da praia, do lado direito de quem olha pro mar. Do lado esquerdo está o Castelo do Queijo (nome informal do Forte de São Francisco Xavier), um forte aberto a visitação.


Panorâmica da minha praia favorita na região. Porto de Leixões à direita e Forte de São Francisco quase imperceptível à esquerda.


Pôr-do-sol em Matosinhos

Para terminar o dia dê uma passada no Parque da Cidade, bem do lado da praia de Matosinhos. É um parque enorme, também espaço de grandes eventos como concertos, feiras e festivais de rock. Mas na maior parte do tempo quem toma conta do parque são os gansos e patos que ficam pelo lago. É comum as pessoas levarem pão para alimentar os patos, mas cuidado com os gansos, eles atacam. Melhor manter uma distância segura.


Parque da Cidade na primavera, época mais linda com a flor mais perfeita do mundo.

Curiosidade: Próximo ao Parque da Cidade está a Avenida da Boavista, a maior avenida do Porto, com mais de 5km de extensão e que eu já percorri a pé algumas vezes sozinha e levando amigos (Bruna, Bruno, Flávia, me perdoem! A Flávia ficou com os pés inchados depois, tadinha... rs). Eu gosto de andar, gente, me deixa!

Como chegar: Partindo da Casa da Música ou do Mercado bom Sucesso para a Foz é só pegar as linhas 204, 200 ou 207, por exemplo. Tem vários autocarros que passam por lá. Não tem metro. Mais informações no site da STCP. Para voltar de Matosinhos para o centro pode pegar o metro em Senhor de Matosinhos ou algum autocarro próximo do Parque da Cidade.

Extras: nem falei da Catedral do Porto, Rua de Santa Catarina, Universidade do Porto, Mercado do Bolhão, Mosteiro da Serra do Pilar, Galerias, Igreja do Carmo, Museu Serralves, as caves em Gaia... tem tanta coisa ainda pra explorar... Não cabe tudo em 3 dias, volte mais vezes. 



 
Porto.

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